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No ano de 2011 começou um movimento de avanços em relação às diretrizes da sustentabilidade na moda. Nesse contexto surgiram artigos, notícias e pressão das pessoas e de alguns órgãos – como o Greenpeace, por exemplo. Com campanhas para entender como são feitas as roupas e o que está acontecendo com os tóxicos e químicos envolvidos na cadeia industrial. Todas as indústrias trazem esse problema, mas a moda, em particular, tem realmente um quesito muito poluente.
Então, em 2011 o Greenpeace lançou a campanha Detox My Fashion. E a partir disso algumas marcas começaram a se posicionar e entender a importância da sustentabilidade. Algumas marcas aderiram ao Greenpeace Detox, que é um programa de certificações e monitoramento de vários aspectos desses poluentes. Nesse post vou compartilhar um pouco sobre os avanços em relação à sustentabilidade na moda.

Um marco na sustentabilidade na moda
Em 2013, infelizmente, ocorreu um marco que realmente potencializou muito mais o movimento, que trouxe mais consciência ambiental. Foi no dia 23 de abril de 2013, quando um complexo industrial muito grande, chamado Rana Plaza, desabou. Lá era uma grande confecção de várias marcas do mundo todo, principalmente de fast fashion. Com o desabamento, muitas marcas foram envolvidas, como o grupo Inditex, a H&M que é sueca, Marks & Spencer, Nike, Adidas, Primark, etc. Todas se reuniram ali – e já estava acontecendo o Greenpeace Detox – para se posicionarem e pensarem em algo para mudar essa situação.
Não ia ser algo imediato, mas naquele momento começou um envolvimento maior. Como a consciência da sustentabilidade aumentou, essas marcas criaram projetos, métricas, começaram a dizer “não” para projetos que não eram sustentáveis. Mas isso ainda estava um pouco vago, as pessoas não entendiam exatamente o que era esse movimento e não havia muita transparência. Então esse movimento passou a ser chamado de greenwashing, que significa jogar uma tinta verde por cima e fazer de conta que é, mas não é.
O acontecimento no Rana Plaza marca muito o aspecto cultural e social daquela região em Bangladesh. Esse fato trouxe consequências não só na parte ambiental, mas também na parte econômica da qual essa comunidade dependia e principalmente social, e todos os impactos que vieram com esse acontecimento. Então, quando se fala em sustentabilidade, os fatores principais são o ambiental, que é a questão dos poluentes, como preservar a natureza, tratamento da água, etc; e também os fatores sociais e econômicos, que são igualmente importantes.
A sustentabilidade também envolve o social e econômico
Não tem como fazer uma marca focando só no ambiental. Se o negócio não tem uma sustentabilidade econômica, por exemplo, ele não vai apoiar o desenvolvimento da região. Eu sempre digo que para começar qualquer conversa sobre sustentabilidade, a gente precisa entender primeiro que é um assunto interdisciplinar, não tem apenas um foco, a gente precisa pensar em tudo o que vai acontecer em volta.
Se você pretende começar um negócio de moda sustentável, a primeira coisa que você precisa considerar é quais aspectos estão a seu alcance e quais não estão. Essa cadeia é muito complexa. Você pode, por exemplo, ter uma fábrica que trabalha com energias renováveis, ou uma marca onde a moda é feita em determinada região e por isso traz uma questão social e cultural. Mas a matéria-prima é comprada no varejo e você não faz ideia de onde ela foi produzida. Então, tenha em mente que ninguém é 100% sustentável.
Sobre o desenvolvimento econômico, é algo que o Brasil viveu um pouco, mas Portugal, sendo um país muito menor e com uma população ativa de trabalho muito menor, quando a União Europeia abriu as portas para os produtos da Ásia entrarem lá, mais ou menos em 2003-2004, realmente a indústria portuguesa entrou em colapso. Eles perderam tudo porque não tinham mais nenhuma competitividade. Por isso, lá em Portugal a sustentabilidade partiu do pilar econômico, e eles continuam trabalhando muito a questão econômica.
Moda sustentável e atrativa
O negócio que vende pouco não gira economia. Se a gente deixa todo mundo sem consumir a economia não gira. Hoje em dia observamos uma busca das pessoas por produtos sustentáveis, mas menos de 5% das pessoas de fato compram esse tipo de produto. Esse desconexo acontece porque os produtos que estão sendo vendidos, que são sustentáveis, não são o que as pessoas querem comprar, porque eles não têm o apelo da moda. A gente compra moda porque a gente quer se expressar, porque tem que ser bonito, tem que ter uma estética. Não basta ser uma camiseta de algodão orgânico, tem que ser algo atrativo para as pessoas.
Um dado muito interessante que aconteceu com a H&M, uma marca gigante do fast fashion, em 2017 registrou pela primeira vez um recuo absurdo de 62%. Na minha época de varejo, se isso acontecesse toda a equipe seria demitida na hora, a gente não podia deixar acontecer nem 10% de recuo. Então 62% é absurdo. Essa situação aconteceu de fato em 2016, e os dados foram registrados em 2017. Desse curto período de tempo de 2017 pra cá eles vem trabalhando em implementações de projetos para promover uma marca sustentável, como alternativa para reverter esse resultado. Isso aconteceu na Europa também, surgiram muitas lojas de roupa infantil da linha orgânica, sustentável, de fibras recicláveis, etc, e que estavam comunicando isso muito bem nas lojas.
Então, há um avanço e há o desejo das pessoas por produtos sustentáveis. E nós, enquanto negócios de moda, podemos pensar em alternativas sustentáveis para os nossos produtos.
E você, já pensou em ter um negócio de moda sustentável? Conta pra mim!
Se preferir, confira o conteúdo desse post em vídeo.
Um super abraço e até a próxima!
Andressa Rando Favorito