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Hoje vou falar sobre quem nunca trabalhou com moda, não estudou moda e não é do ramo, mas tem vontade de ter um negócio de moda. Vamos falar sobre as principais questões para quem nunca trabalhou com moda e quer saber o que precisa fazer para ter um negócio de moda de sucesso.
É preciso fazer faculdade de moda para ter um negócio?
Ter um preparo e estudo técnico da área é interessante, é sempre bom ter mais conhecimento sobre a área que se pretende trabalhar. Assim como em qualquer negócio de outros ramos, à medida que você se especializa e trabalha com aquele serviço você cria uma curva de aprendizado. Quanto mais conhecimento você tem sobre o seu produto e serviço, mais autoridade você impõe tanto nas suas compras com fornecedores quanto nas próprias vendas. Esse conhecimento é importante.
A questão que fica é: eu só consigo adquirir esse conhecimento em um estudo formal, fazendo um curso técnico ou superior na área? O Brasil é um dos países do mundo que mais tem cursos superiores em design de moda, tecnólogo de costura e estilo, etc. O Brasil ainda é considerado um país industrial na moda, tanto na parte técnica quanto nos estudos de âmbito mais social e cultural. Então você pode sim adquirir esse conhecimento estudando.
Eu sou formada em design de moda, sempre estudei moda e depois também fiz MBA em negócios. Estudei aqui no Brasil, depois tranquei e comecei tudo de novo no exterior. Eu também dou aula em cursos de ensino superior e pós-graduação em algumas instituições de ensino do Brasil. O que eu quero dizer é que o ensino formal é muito válido, eu sempre usei muito do que eu estudei no meu trabalho. Mas o que também é uma verdade é que a prática é a maior escola.
A prática é a melhor escola
Eu posso dizer que boa parte do que eu trago para vocês eu não aprendi no estudo formal. Aprendi na prática, na execução, vendo os resultados e vendo o que funciona mais. E isso tanto comigo à frente dos negócios quanto acompanhando os meus alunos que estão colocando em prática esse método que eu desenvolvi. É um método orgânico, em que nós sempre analisamos o que continua funcionando e o que pode ser mudado.
Nada do que eu trago aqui é teoria que está em livro, é um conhecimento prático adaptado para a realidade de cada um. Outra questão que eu vejo muito no ensino formal é um apego muito grande a algo teórico, o que é muito válido. Mas quando se fica muito apegado à teoria, fica menos adaptável às situações reais do dia-a-dia.
O que tenho observado é que a vasta maioria das pessoas que estudam design de moda, estilismo, e que vão começar uma marca, não necessariamente consegue vender os produtos. Isso acontece porque estão focadas principalmente na parte técnica da construção do produto, do desenho do produto. Essa parte é muito importante, mas falta o conhecimento da parte de venda, gestão de estoques e custos, que é uma grande falta no ensino formal de moda no Brasil.
Todo o cuidado que se tem no desenho do produto, quando ele não é validado por clientes, infelizmente o sonho e o conceito da marca vão por água abaixo. O negócio só se sustenta com as pessoas realmente comprando. Então a gente tem essas duas lacunas, tanto quem tem o conhecimento mais técnico do produto que não tem conhecimento dos negócios, assim como quem tem conhecimento de negócios, mas não tem entendimento técnico do produto. Por isso que eu sempre falo dessas duas habilidades.
O momento perfeito não existe
Esse conhecimento vai ser consolidado de verdade na prática. É com muito mais velocidade do que, de repente, ficar 4 anos estudando pra só depois começar o negócio. A gente precisa entender que tem vários aspectos que na prática vão tornar mais consistente aquele aprendizado. E quando a gente estuda e não coloca em prática, esse conhecimento pode não se consolidar. Em qualquer esfera que você esteja o aprendizado é constante.
Então, não é porque você vai parar toda a sua vida, fazer 4 anos de faculdade pra depois começar o seu negócio, que você já irá começar com todo o conhecimento necessário. Se você está um pouco reticente para começar o negócio de moda, o primeiro passo você já deu que é estar aqui. Aqui eu falo de todos esses pilares que envolvem um conhecimento técnico do produto e também o conhecimento do negócio como um todo. Mas principalmente de tudo o que precisa para o seu negócio de moda existir. Eu tenho um método que mesmo quem nunca trabalhou com moda consegue executar.
Entenda que você nunca vai estar 100% pronto, mesmo com anos de estudo em uma faculdade. O método Moda de Sucesso PRO é um checklist, um passo a passo muito organizado para você preparar cada etapa do seu negócio, e identificar quais serão os desafios e como contorná-los. É importante começar. O medo vai estar aqui para nos proteger, tenha consciência dessa proteção e descubra o que você precisa fazer para minimizar os potenciais problemas.
As duas principais formas de negócio de moda
Algo que nós trabalhamos no curso Moda de Sucesso PRO é o passo a passo para você sentir como funciona e entender que talvez não seja tão difícil como você imaginava. Mesmo para quem está na área há muito tempo, existem várias frentes do negócio que são possíveis de você expandir, quem é lojista pode ter marca própria, e quem tem marca própria pode pensar em exportação, vender no atacado, uma série de novas frentes. Mas muitos lojistas pensam que não estão prontos para isso, mas com o tempo vão vendo que é possível.
Se você está começando do zero, vou te sugerir algumas opções. São duas vertentes principais: a marca própria, em que você desenha e confecciona os seus produtos; e a revenda de produtos de terceiros, produtos que já vêm prontos. Pensando na marca própria, a gente precisa considerar a concepção do desenho do produto e também a parte técnica dos elementos do produto, precisa encontrar os insumos e fazer a modelagem. Veja meu vídeo sobre o nascimento de uma coleção, com essas etapas.
Na modelagem você precisa definir detalhes do seu produto, como onde vai o zíper, botão, etc. Se você não tem conhecimento de corte e costura e da confecção em si, você pode terceirizar uma confecção que faça esse processo todo. Uma vez aprovados os produtos, você precisará dimensionar quantas peças vai confeccionar. Entra também a parte da compra, você terá que comprar material suficiente para aquela quantidade de peças que você dimensionou.
Etapas para quem tem marca própria
Feita essa projeção do número de peças que você vai confeccionar você precisará contratar esses fornecedores, tanto das matérias primas quanto da confecção que irá fazer as peças. Quando estiver pronto, você terá que aprovar a modelagem, a grade, e assim vai até o processo de aprovação final onde você vai confeccionar e produzir todas as unidades que você definiu anteriormente.
E só então vem a parte das vendas. Aí você irá escolher entre fazer essa venda no varejo ou no atacado. Pode inclusive fazer nos dois formatos, contanto que esteja utilizando o mark-up correto para as duas situações. No atacado você tem várias formas de realizar essa venda, através de representante, vendedor, ou você mesmo pode negociar com o lojista. Você pode realizar as primeiras vendas no atacado e montar um processo de negociação para depois contratar um representante que faça isso para você.
Ao mesmo tempo você pode ter a venda no varejo, se quiser. Para vender para o consumidor final é preciso pensar na experiência de compra, se vai ter loja física ou não, se vai estar só no Instagram, escolher o ponto de venda onde vai trabalhar, e essas escolhas dependem do seu perfil, do que você quer com sua marca e que tipo de clientes você pretende ter.
A venda de produtos de terceiros é sempre interessante
Já quem é lojista começa comprando das marcas no atacado, ou de confecções, o produto já pronto. O lojista não terá o trabalho do desenho, da concepção do produto, da busca de matérias primas, de fornecedores, de validação, de modelagem e grade, de qualidade que tem que testar, e da projeção de estoques. O trabalho do lojista é encontrar todas as confecções e marcas e fazer essa curadoria dos produtos.
O trabalho do lojista será igual o de quem tem marca própria nas etapas de definição do mix de produtos, quais categorias, quais faixas de preço, cores, grades de tamanho, pontos de venda, etc. Pessoalmente, eu acho interessante trabalhar sempre com marca de terceiros. Apesar de a margem ser um pouco menor, dá muito menos trabalho, e com menos trabalho você tem mais agilidade para pensar na sua marca própria.
E também é interessante fazer testes com produtos de terceiros porque o risco vai ser muito menor. Quando eu compro o produto pronto no atacado, várias confecções e atacadistas topam quantidades que não são muito altas. Já os pedidos mínimos para confecção do seu produto próprio são muito mais altos. Quando você faz uma compra com um valor global um pouco maior eles aceitam. Mas se você for confeccionar os pedidos mínimos são muito maiores, porque eles vão cortar várias peças juntas.
Por mais que o preço unitário seja menor para confeccionar seu produto do que para comprar pronto, você precisa se comprometer com um volume muito maior. Isso pode acabar gerando problemas de muito estoque. E se você não tem nenhum histórico de vendas, pode fazer projeções e pequenos testes para ver quais tipos de produto as pessoas querem comprar. E esses testes são validados com mais facilidade quando você vende produto de terceiros.
Faça testes vendendo marcas de terceiros
Vamos dizer que você vende moda casual e quer começar a vender moda festa. Em vez de montar toda uma operação na sua confecção, comprar máquinas especiais, contratar bordadeiras, etc, não tem alguma marca de moda festa que você possa comprar no atacado algumas peças e fazer esse teste? E mesmo que você tenha um método e queira trabalhar com marca própria, começar revendendo produtos de terceiros é sempre um caminho mais seguro.
É comprar alguns modelos e experimentar. Se vendeu bem, fazer reposição. E se você entender que esse produto funciona no seu negócio, pode desenvolver sua própria moda festa de uma forma muito mais segura. E nesse processo de comprar do concorrente, não que você vá copiar a peça dele, mas você aprende como funciona esse mercado.
Voltando naquela fase do desenvolvimento do produto, se você não tem nenhuma habilidade técnica, não tem conhecimento de modelagem, você pode contratar um estilista para fazer esse trabalho. Eu já contratei muitos designers freelancers e sempre fiquei com algumas pessoas chave que sempre podiam complementar alguma coleção que eu estava trabalhando, sabendo que são profissionais confiáveis.
Você enquanto empresário você orientar quanto ao sortimento e mix de produtos. Por exemplo, quero 2 blazers, 3 camisetas, 2 calças jeans, 1 calça de alfaiataria, 1 vestido de malha, e precisa ter mais ou menos 3 cores neutras e duas cores da temporada. Você precisa dar esse briefing, então busque esse conhecimento que é a chave do negócio dar certo.
Você pode se especializar para facilitar seu trabalho
Com o tempo, se você quiser se especializar e aprender costura, modelagem, desenvolvimento de produto, faça cursos, isso vai agregar bastante. E mesmo que você não vá colocar a mão na massa, vai conseguir orientar com muito mais segurança quem estiver fazendo isso para você. Mas é preciso dar o direcionamento do mix de produtos, do sortimento, da grade e de outros pontos importantes como o conceito da sua marca, seu público alvo, etc.
É definir essas questões e passar para um estilista que vai fazer o desenho conceitual para você aprovar. Sendo aprovado você solicita a ficha técnica, que é um desenho 2D em preto e branco com todos os detalhes do produto, costura, zíper, botão, onde vai cada elemento, quantos centímetros da barra, onde vai a etiqueta, todos esses detalhes. Você leva essa ficha técnica na confecção, a confecção faz uma peça piloto pra você com um prazo e orçamento. É mais ou menos assim que funciona, e você precisa coordenar tudo isso.
Ou seja, você não precisa ser aquela pessoa que desenha o produto. Isso funciona bem para quem está começando. E se você começar com revenda de produtos de terceiros, é mapear, definir o que você quer, onde vai vender, com quais preços vai trabalhar, tipo de produto, etc. Tendo definido isso, vai definir o seu orçamento, quanto vai dedicar para o seu estoque, e começar a mapear as confecções e atacadistas que trabalham com o tipo de produto que você quer vender. Esse trabalho do desenho do sortimento dos produtos é a parte mais estratégica para você definir.
Você pode trabalhar com moda se realmente quiser
Muitas confecções também tem equipe de estilo que desenha, talvez cobre um pouco mais caro. É essencialmente um modelo que eles desenharam, então pertence a eles. Já quando você contrata um estilista para desenhar sua coleção, você está comprando esses modelos, então são seus. Idem para modelagem. Você pode deixar que a confecção faça a modelagem com base na ficha técnica. Ou você pode contratar uma modelista para fazer isso, levando a ficha técnica e os moldes já prontos para a confecção.
Então existem várias fases nesse processo. Você pode pegar confecções que fazem tudo ou ir contratando outros profissionais para essas outras etapas. Assim, o importante é que você não deixe de começar seu negócio de moda porque nunca estudou ou trabalhou nessa área. Comece e, à medida que for crescendo e sentir necessidade, procure fazer cursos direcionados para te ajudar tanto na gestão do seu negócio de moda quanto na parte dos produtos.
Agora conta pra mim, você tem vontade de ter o seu negócio de moda?
Se preferir, confira o conteúdo desse post em vídeo.
Um super abraço e até a próxima!
Andressa Rando Favorito