As Seis Mentiras Sobre Trabalhar no Mercado da Moda

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Hoje eu vou falar sobre as 6 mentiras que as pessoas contam sobre trabalhar com moda. São as 6 mentiras principais que eu escuto as pessoas falando sobre como é trabalhar com moda ou ter um negócio de moda. Vem comigo que nesse post eu vou deixar bem claro qual é a verdade sobre o trabalho com moda.

Para ter um negócio de moda de sucesso, apenas gostar de moda não é o suficiente.

1. Basta gostar de moda para ter sucesso na área

A primeira mentira é que basta gostar de moda, se vestir bem e saber quais são as tendências para ter um negócio de moda de sucesso. Essa não é uma mentira como um todo, mas quero deixar claro que gostar de moda não é o suficiente. Muito se fala sobre viver do seu propósito, e a pessoa que gosta de moda já tem como primeiro impulso transformar isso em um negócio. Mas não é só gostar de moda, se vestir bem, saber quais são as tendências. Um negócio de moda exige uma série de outros trabalhos adjacentes que, em sua maioria, envolvem muito mais que escolher roupas e mostrá-las para as pessoas.

Eu costumo comparar um negócio de moda com um restaurante. Não é porque uma pessoa cozinha bem que ela, necessariamente, vai ter um restaurante de sucesso, altamente lucrativo, sempre cheio. Existe uma série de coisas necessárias para um restaurante funcionar, e geralmente quem abre um restaurante a última coisa que essa pessoa faz é cozinhar. Porque o restaurante depende da localização, do serviço, dos garçons, fornecedores, etc. Percebe como é parecido com um negócio de moda?

No geral, quando a gente tem um negócio de moda ou trabalha com moda, a última coisa que a gente faz é ficar trocando de roupa, escolhendo roupa para nós mesmos. Precisamos estar mais ligados ao que as pessoas querem. É claro que vai envolver a nossa seleção dos produtos e o atendimento, mas é preciso considerar o que os clientes querem. Quem faz um negócio de moda pensando só no que gosta para si dificilmente terá sucesso. Então, use a sua paixão para pensar em iniciar uma carreira ou negócio de moda, mas entendendo que vai além do prazer de comprar roupas e se vestir bem no seu dia-a-dia.

2. Basta conhecer as tendências para comprar bons estoques

A segunda mentira, bem atrelada à primeira, é que basta conhecer as tendências e você saberá montar um estoque de peças que vão vender bastante. As tendências muitas vezes emplacam e podem realmente se tornar produtos estrelas (entenda mais sobre isso no meu e-book gratuito, clique aqui para baixar). Um produto de tendência começa a crescer com muita velocidade, tem uma demanda muito grande, mas eventualmente ele vai desacelerar. Esses produtos são bons no seu mix, mas não são eles que fazem um negócio de moda crescer e se sustentar no médio e longo prazo. E aqui está a mentira.

Tradicionalmente, até nas grandes marcas mais famosas do mundo, como Louis Vuitton, Christian Dior, etc, eles pagam todas as contas do negócio com produtos que são verdadeiros patinhos feios (eu falo sobre isso no e-book também!). Essa é uma tendência consistente em todos os negócios de moda que eu já passei. Geralmente são aqueles produtos mais simplesinhos, que o pessoal tem até vergonha, na verdade são os produtos que as pessoas mais buscam e compram.

Então é nosso dever enquanto amantes de moda, designers, estilistas e profissionais desse mercado saber calibrar aquele produto, deixá-lo da melhor forma possível para que ele seja o melhor produto que a gente pode colocar no mercado. Mas entendendo que não são apenas as tendências que vendem. Existem produtos de alto e de baixo risco, e são os de baixo risco que pagam suas contas, as tendências em geral são produtos de maior risco. Veja mais sobre isso no meu vídeo sobre a pirâmide do mix de produtos. Enfim, para montar um mix de produtos, uma coleção bem sólida, a última coisa que nós pensamos são as tendências. As tendências são a cerejinha do bolo, e não o bolo em si.  

3. E-commerce é mais barato e mais fácil

A terceira mentira é que para ficar mais fácil, melhor não abrir loja física, é só vender no Instagram. Veja também esse post meu sobre como o e-commerce não é a solução. Atualmente é bem normal quem tem loja física ter também alguma atuação online, seja pelo Instagram ou pelo WhatsApp. Existem várias formas de vender online e não precisa ser um e-commerce para isso. A mentira aqui é que ter uma loja no Instagram é mais fácil e mais barato que ter uma loja física.

Se você procurar lojas de moda no Instagram existem milhões de perfis. Moda é um nicho muito utilizado no Instagram e na internet como um todo. Para comprar uma palavra-chave como “moda feminina” para que as pessoas achem o seu site, é preciso investir muito dinheiro para estar nas primeiras páginas de busca. Além de ter que gerar muito conteúdo, muita atividade naquele site para otimizá-lo e ser encontrado. O alcance orgânico do Instagram é de -2% da sua base de seguidores. Isso significa que se você tem 100 seguidores, apenas 2 vão ver suas postagens. É preciso ter um volume muito grande de seguidores para conseguir converter vendas.

Além disso, converter vendas online é mais complicado do que vendas off-line. Apesar de na loja online poder vender para qualquer lugar do mundo, no geral as pessoas se conectam mais com os perfis de Instagram locais, por conta do frete ou mesmo do estilo dos produtos. E para que você tenha esse número significativo de seguidores, terá que investir em tráfego pago. Percentualmente, o que as pessoas estão investindo em tráfego pago para uma loja de Instagram está muito parecido com um aluguel de ponto físico para uma loja. Ou seja, há também um custo para ter uma loja online que realmente venda.

4. Vou colocar no bolso o dobro do custo de cada peça

Quando as pessoas decidem começar um negócio de moda e vão em busca das suas primeiras compras, em um shopping atacado, por exemplo, encontram uma blusa de R$50 que é vendida no mercado por R$100. Esse é um mark-up básico praticado. Veja esse vídeo meu sobre como calcular mark-up. E a mentira aqui está em achar que toda essa diferença, no caso os R$50, vão ser lucro, que vai ganhar o dobro do custo da peça. Você vai ganhar o dobro, mas não vai ficar com o dobro!

Esses R$50 que você ganha na venda da peça você vai usar para pagar os custos operacionais do seu negócio como um todo, pagar as pessoas que estejam te ajudando no negócio e inclusive reinvestir em novos estoques para que você venda um volume maior no futuro a partir de compras maiores. Você não vai necessariamente ganhar o dobro do custo na venda da peça. Você pode faturar essa porcentagem se realizar a venda a preço cheio e se aquele preço de venda estiver adequado, mas não necessariamente vai colocar esse dinheiro no seu bolso. Para entender mais sobre isso, veja esse vídeo meu sobre custos operacionais.

5. Dá pra fazer tudo sozinho

Algumas pessoas conseguem manter um negócio de moda sozinhas. Mas só é possível em uma escala bem pequena, vai ser muito difícil expandir o negócio e ter um faturamento legal fazendo tudo sozinho. Há uma limitação física para fazer as compras e atender os clientes. Se você não tem um ponto de venda, precisará tirar foto dessas peças, precificar, cadastrar tudo em algum lugar, fazer novas compras, fazer follow-up com fornecedor, e muitas outras coisas. Há uma série de coisas que precisam ser feitas e, quando você está trabalhando sozinho, isso pode limitar bastante o seu potencial de crescimento.

Uma cliente minha esteve recentemente no Vale do Silício, apresentando um projeto bem inovador da marca dela. E algo que ela percebeu é que nenhum investidor conversa com um empresário ou dono de marca se não forem pelo menos dois sócios. Isso é uma premissa em qualquer livro de empreendedorismo. Então se você realmente leva a sério o seu negócio, quer fazê-lo crescer e entende que muitos pilares precisam estar organizados para que esse negócio se desenvolva, se você quer ter o controle do seu negócio e ter um bom faturamento e pró-labore, saiba que fazer isso sozinho é muito difícil.

Essa segunda pessoa não precisa necessariamente ser um sócio. Você pode chamar alguém para te ajudar, talvez um parente que te ajude em meio período, ou mesmo um assistente virtual. No meu curso Moda de Sucesso, vários alunos estão contratando esses assistentes virtuais, tanto para fazer foto, publicações em mídias sociais, ou para rodar planilhas. Então já considere onde você pode buscar ajuda. É possível e não é tão difícil assim, e vai te ajudar bastante a realmente crescer e desenvolver o seu negócio.

6. Trabalhar com moda é glamouroso

E a última mentira é que trabalhar com moda é glamouroso! Sabe para quem é glamouroso? Para quem vai comprar a roupa, para o consumidor final. E quem gosta de moda, que quer trabalhar com moda porque gosta de se vestir bem, gosta das roupas, acaba descobrindo que o trabalho é pesado! É carregar arara, abrir caixa, ir fazer compras, negociar com fornecedor, carregar coisas, carregar cabides, mudar as coisas de lugar, limpar a loja, carregar mala, levar sacola até cliente, fazer modelagem. Usar cabelo preso, usar tênis, é muito trabalho e realmente é cansativo. É muito difícil fazer todas essas coisas com salto e em um ambiente glamouroso.

O trabalho no dia-a-dia não é glamouroso, mas é sim muito gostoso. É bom estar envolvido nos bastidores. Na minha época de compradora a gente viajava bastante para encontrar fornecedores, visitar fábricas. E como são muitas viagens, tem sim viagens de classe executiva e hospedagens em bons hotéis. Mas a realidade é que a gente chega no hotel às 11 da noite depois de trabalhar desde às 7 da manhã, com fuso horário e depois viajar para outro país. Então é muito cansativo. O que parece ser glamouroso às vezes é só na foto. A gente quer que seja glamouroso para o consumidor final, para que ele tenha uma boa experiência de compras. Mas quem está nos bastidores sabe que é um trabalho pesado.

Essas são as 6 verdades desmistificando as 6 mentiras que eu escuto sobre ter um negócio ou trabalhar com moda.

E você já ouviu alguma dessas mentiras? Conta pra mim!

Um super beijo e até a próxima!

Andressa Rando Favorito